DIÁRIO DO CHILE

A reserva era para o voo das 6h30 da empresa Lan Chile Swiss, saindo de Guarulhos, nos disseram que deveríamos chegar com 3h de antecedência para o check-in, com a possibilidade de atrasados na saída, devido ao problema aéreo brasileiro. Dois dias antes eu já estava nervosa e mal conseguia dormir.

A angústia já estava no limite máximo, deixar meu pai em casa com aquela cara de tristeza e meus cachorros, era sofredor e eu estava com uma sensação muito estranha, como se fosse perder algo. Mas desistir jamais! Saímos de casa 1h com o Ni, pois meu pai não quis nos levar ao aeroporto, já que tem muito medo de avião.

Ao chegarmos lá não havia nada de muito extraordinário para fazer e descobrimos que chegar com 3h de antecedência era idiotice da nossa parte, porque tivemos que esperar até o horário correto. Nesse meio tempo minha mãe fez milhões de perguntas e passou a ler um guia que comprei para ela, visto que ela não fala (ou não falava) nada em espanhol. (Veja aqui o guia)

Todas as palavras que ela achava engraçado, lia em voz alta e me perguntava se eu conhecia. Aqui vale lembrar a primeira frase que a ensinei a dizer: "Donde está Lígia, mi hija?", porque achei que seria muito necessário ela saber falar isso! Mas creio que essa frase a deixou tensa, pensando na possibilidade de eu fugir e deixá-la sozinha.

Enquanto esperávamos o voo ela quis ir ao banheiro, que estava bem a nossa frente. Antes de ir, ela levantou, olhou para mim e disse: "Eu vou no banheiro, mas você não sai daí heim", com ar de mãe falando com sua filha de 5 anos e me apontando o dedo indicador. Achei extremamente engraçada aquela frase e dali em diante tive a certeza de que não escaparia das garras de Dona Genilda tão facilmente.

O voo saiu as 7h, sentamos na janela do lado direito, pois o atendente da Swiss nos havia dito que esse era o lado onde se via melhor a Cordilheira. O avião era confortável e tinha até uma tela em cada assento para ver filmes, ouvir música, etc. São 2616km de distância e 4 horas de voo. E em poucos minutos minha mãe estava na janela olhando tudo de cima e maravilhada.

Passamos por cima de muita neve e foi emocionante ver tanto branco, chegava a doer os olhos. A informação era de que passávamos por cima de Aconcágua e logo em seguida a esperada Cordilheira dos Andes. É tudo muito branco, o arrepio inevitável. Minha mãe estava ali como criança, revesando entre uma janelinha e outra, e eu tentando escapar da cabeça dela e ver algo também.

Assim saiu a primeira foto, nela se vê Aconcágua, que significa "Sentinela de Pedra", é a montanha mais alta das Américas e pertence a Argentina. Haverá muitas coisas que eu não conseguirei descrever, e a vista das terras geladas da Argentina e do Chile é uma dessas coisas.

Por mais que eu tente e por mais que haja fotos, nada vai traduzir tão perfeitamente a sensação de passar por ali. Para muitas pessoas esse trajeto pode ser banal e não tão empolgante, mas eu e minha mãe nos emocionamos muito em olhar para baixo e ver pela primeira vez a neve, as montanhas, as formas e formatos, tudo.

Às 10h50 desembarcamos no Chile, no Aeropuerto Comodoro Arturo Merino Benitez. A mensagem na tela era: Bienvenidos al Chile!

Sorri e pensei: agora ferrou! E se eu não conseguir falar espanhol? E se eu não entender o que me falam? Se acontecer algo? Mas logo os pensamentos ruins foram embora e a emoção tomou conta de mim. CHEGUEI!