Aprendi a andar de salto aos 26 anos...

Um amigo me recomendou um novo seriado do canal HBO chamado ALICE. Na verdade já tinham falado do seriado antes e eu também já tinha visto a propaganda, mas ainda não tinha assistido. Quando ele insistiu demais para que eu visse, ok, concordei e liguei a televisão justo na hora em que estava passando.

O episódio que eu vi não me comoveu muito, no sentido de não ter me empolgado para ver novamente. Mas alguns dias depois ele veio me perguntar se eu havia assistido e o que eu achava. Depois falou que ele via o seriado e lembrava de mim. Perguntei porque (éramos dois jornalistas conversando e quando isso acontece a conversa parece mais uma entrevista ou interrogatório). E ele respondeu que tem a sensação de que eu passo pelas mesmas peripécias que a personagem principal, os dramas, emoções, loucuras. Eu ri e disse que assistiria novamente (mas no fundo o comentário me incomodou, porque o episódio que eu tinha visto mostrava muito sexo e eu entendi o comentário dele de uma outra forma, talvez).

Hoje sentei na cama decidida a ver o novo episódio para entender o que ele falava. E já na primeira frase que ela, Alice, falou, eu me identifiquei. Foi algo como:

“Eu vou fazer 26 anos e só agora eu aprendi a andar de salto alto. É engraçado, parece que eu to vendo as pessoas de cima (...) Às vezes eu sinto saudade de casa, mas o que eu menos tenho é tempo pra pensar nisso” – Alice

E com essa fala eu fiquei ligada no episódio inteiro. Isso porque o que ela disse é algo que aconteceu comigo. Agora com 26 anos eu fui descobrir os “prazeres” em usar um salto alto fino. Antes eu sempre olhava para os sapatos elegantes com uma cara de desprezo. Porque eu achava difícil demais andar com salto, além de que minhas saias indianas e meu cabelo desalinhado não combinavam com um salto “Luis XV”, como minha mãe chama.

Depois que mudei para Santiago eu comecei a ter uma fixação por sapatos. Pode ser pelo estilo das pessoas com quem convivo ou porque mudanças acontecem com os seres humanos todo momento. Agora eu não consigo passar indiferente diante de uma loja de sapatos e tenho vontade de ter de todos os tipos, cores, tamanhos... um dia chego lá!

Além dessa semelhança eu, obviamente, também sinto falta de casa e da família. Mas o agito aqui é tão grande e gostoso que eu simplesmente não consigo parar para pensar nisso. Vez ou outra, em um momento de crise existencial, eu deito na cama ou me banho pensando no quanto seria bom estar em casa, mas logo acontece algo ou chega alguém que faz os pensamentos passarem e a tristeza não consegue entrar de vez na minha cabeça.

Esse final de semana eu estava um pouco “deprê”. Sentei na escada da casa e tomei alguns copos de vinho tinto. O vinho não era muito bom, mas me distraiu enquanto não havia ninguém por perto para atrapalhar meu momento solidão. Lembrei de casa, do meu sobrinho que não estou vendo crescer e se quer tenho noticias na quantidade em que eu gostaria. Pensei nos cachorros que eu tanto gosto e não vejo mais fazendo bagunça em casa ou dormindo agarradinho comigo. Pensei no meu pai deitado no chão numa tarde qualquer para descansar porque esse, para ele, é o melhor lugar para deitar e relaxar. Pensei na minha mãe sentada na sala fazendo crochê e fingindo que está vendo televisão. Pensei no meu irmão na casa dele jogando videogame e na minha cunhada lendo um livro no mais tranqüilo sossego que ela tanto gosta. Pensei na Mayra me ligando pra irmos ao forró e nesse momento sorri como se ela realmente estivesse ali, me chamando e eu aceitando ir sem precisar pensar muito.

Pensei em tanta coisa que o vinho foi baixando dentro do frasco. Mas ai lembrei da festa que eu tinha para ir, porque havia ganhado uma entrada. Então os pensamentos fugiram, as lágrimas foram enxugadas e eu voltei a vida santiaguina. Entrei no quarto e disse: “Vamos?”. Os olhos ainda estavam mareados e um abraço foi inevitável. Alguns minutos depois estávamos na rua rindo, cantando, dançando e nos divertindo. No dia seguinte, tudo voltou a normalidade...

Por isso posso copiar o desfecho da Alice e dizer: "Espelho, espelho meu, existe alguém mais Alice do que eu?"

A vida aqui não pára, não dá tréguas...

2 comentários:

Me emocionei lendo esse texto...
Vc tem o poder !!! :0)

hehehe obrigada rosana, até hj ainda nao conseguimos conversar direito. qualquer coisa escreva no meu email. beijos